Artigo escrito para a antologia do in.Rio 2016, evento que reuniu infografistas, designers e jornalistas na ESPM, no Rio de Janeiro. O PDF do livro pode ser baixado aqui.

A geometria angular e sisuda de uma planilha de Excel ainda causa suor frio e agonia existencial na maior parte dos jornalistas com quem trabalhei. É pena, pois essa ferramenta é uma dos mais abnegadas aliadas do jornalismo e da infografia que conheço. Não necessariamente a planilha em si, mas sua estrutura e o que ela induz: o rigor e a precisão do dado.

O cotidiano dentro de um departamento de infografia costuma ser pouco tedioso: problemas surgem o tempo todo. Um dos mais comuns é o dado desestruturado, pautado para uma infografia que nasce disforme e precisa de um esqueleto para se sustentar. Esse desarranjo da matéria prima do info - a informação - aparece de várias maneiras. Números com unidades diferentes, comparações de períodos desiguais, números absolutos em situações que deveriam ser usadas taxas etc.

Em texto, eventuais imprecisões e buracos conseguem ser superados com certa facilidade - "aproximadamente", "cerca de", entre outros recursos (inclusive "entre outros"). Em um infográfico, porém, tais fragilidades ficam mais expostas. A infografia é um instrumento de precisão que, por natureza, precisa conferir aos dados ordem, estética e clareza.

O dado estruturado permite checagens mais sólidas, identificação de "buracos" com mais rapidez e a possibilidade de novos cruzamentos.

Aí que entram as planilhas. Como qualquer ferramenta, elas auxiliam o cumprimento de tarefas, mas não fazem todo o trabalho. A apuração e o faro do repórter permanecem fundamentais, assim como infografias de visual acachapante são essenciais para encantar o leitor, mas é preciso cultivar cada vez mais nas redações a cultura do dado estruturado, "à prova de balas".

O dado estruturado permite checagens mais sólidas, identificação de "buracos" com mais rapidez e, pela natureza dinâmica das tabelas, a possibilidade de novos cruzamentos. Cenários diametralmente opostos de dados dispostos em arquivos de textos ou PDFs.

Outro aspecto importante é o caminho mais fácil para a colaboração entre profissionais, seja entre repórteres como também entre repórteres e infografistas. Em tempos de fechamentos cada vez mais caóticos e multiplataforma, a própria integridade dos dados em circulação pode contribuir para tomadas de decisão mais eficientes.

Ok, eis uma utopia um tanto nerd. Mas vale a tentativa.